[AVISO DE GATILHO: este texto contém palavras que podem servir de gatilho e lembrar-lhe de momentos ruins, relacionados ao tema relacionamentos abusivos; caso não ache que vá conseguir ler sem se magoar, deixe no canto e volte quando se sentir melhor, tá bem? <3]
[AVISO: este texto não trata somente de relacionamentos heterossexuais; onde se lê "ele", pode ser lido "ela" também]
Dia desses, pensando sobre relacionamentos abusivos e suas implicações, perguntei num grupo do qual faço parte, voltado pro feminismo, uma coisa bem simples, com um resultado não tão surpreendente (mas não menos triste e significativo):
Não, não sabemos ser amadas. Quando 115 mulheres dizem que já estiveram em um relacionamento abusivo, o que essas 115 mulheres estão dizendo é que, em algum momento de suas vidas, alguém as fez acreditar que humilhação, dor, tristeza e ansiedade eram sinônimos de amor. Alguém, no meio do caminho, pegou-as pela mão e jogou-as no fundo do poço sob a capa do amor sem limites. Não, não sabemos ser amadas.
Estar em um relacionamento abusivo é como uma montanha russa. Em um momento tudo parece bem, numa calmaria que se mantém constante por algum tempo. AÃ, de repente, as coisas não-estão-tão-bem e podem se materializar em socos, pontapés ou palavras "simples" que, à primeira vista, parecem cheias de boas intenções. O carrinho sobe, sobe, sobe e depois ele desce, em alta velocidade. "Nunca mais volto a permitir que isso aconteça", "este relacionamento não serve mais para mim".
Depois, vem de novo a calma. Tudo bem de novo. Flores, pedidos de desculpas e juras de amor eterno. "Talvez ele mereça uma nova chance", "eu gosto tanto dele" e "eu também poderia ter feito isso e isso diferente". Vai ver ele só falou da minha roupa porque eu poderia mesmo ter usado outra coisa. Quando ele me chamou de vagabunda, ele só estava com a cabeça quente. Ele não quis mesmo me bater, mas é da natureza dele ser agressivo.
Inventamos desculpas para continuar acreditando que isso é amor e que amor é isso mesmo: é sofrer, mas perdoar; é apanhar, mas insistir; é chorar, mas ceder. Amor é sofrimento.
Não é consciente, mas também não é sem motivação. Somos criadas para achar que amor sem sofrimento não é amor, em todos os cantos. Dia desses, vi pelo facebook uma mensagem que viralizou com os dizeres: "Te abraçaria mesmo que eu fosse um balão e você um cacto". Um sinal vermelho saltou na minha mente. A romantização do amor doentio está dentro de nós de tal forma que passamos a achar que é PROVA DE AMOR sentir dor. E a coisa toda é tão bizarra, que as mesmas pessoas que incentivam o amor sofredor, depois apontam o dedo na cara de quem não consegue, por inúmeros fatores, "largar" o relacionamento abusivo.
Estar em um relacionamento abusivo é como uma montanha russa. Em um momento tudo parece bem, numa calmaria que se mantém constante por algum tempo. AÃ, de repente, as coisas não-estão-tão-bem e podem se materializar em socos, pontapés ou palavras "simples" que, à primeira vista, parecem cheias de boas intenções. O carrinho sobe, sobe, sobe e depois ele desce, em alta velocidade. "Nunca mais volto a permitir que isso aconteça", "este relacionamento não serve mais para mim".
Depois, vem de novo a calma. Tudo bem de novo. Flores, pedidos de desculpas e juras de amor eterno. "Talvez ele mereça uma nova chance", "eu gosto tanto dele" e "eu também poderia ter feito isso e isso diferente". Vai ver ele só falou da minha roupa porque eu poderia mesmo ter usado outra coisa. Quando ele me chamou de vagabunda, ele só estava com a cabeça quente. Ele não quis mesmo me bater, mas é da natureza dele ser agressivo.
Inventamos desculpas para continuar acreditando que isso é amor e que amor é isso mesmo: é sofrer, mas perdoar; é apanhar, mas insistir; é chorar, mas ceder. Amor é sofrimento.
Não é consciente, mas também não é sem motivação. Somos criadas para achar que amor sem sofrimento não é amor, em todos os cantos. Dia desses, vi pelo facebook uma mensagem que viralizou com os dizeres: "Te abraçaria mesmo que eu fosse um balão e você um cacto". Um sinal vermelho saltou na minha mente. A romantização do amor doentio está dentro de nós de tal forma que passamos a achar que é PROVA DE AMOR sentir dor. E a coisa toda é tão bizarra, que as mesmas pessoas que incentivam o amor sofredor, depois apontam o dedo na cara de quem não consegue, por inúmeros fatores, "largar" o relacionamento abusivo.
Se sair parece difÃcil, o que vem depois também não fica atrás. Rihanna há alguns anos cantou: It's gonna take a miracle to bring me back (será necessário um milagre pra me trazer de volta). A pior parte de passar por um relacionamento abusivo é justamente esta: você não consegue mais distinguir quais atitudes suas são traços da sua personalidade ou cicatrizes daquele relacionamento. Você demora muito, muito tempo até conseguir se entregar novamente pra alguém. Você duvida de si mesma, coloca-se pra baixo, diminui-se, trapaceia-se. Você se questiona inúmeras vezes como foi tão burra por tanto tempo. Você faz de tudo e mais um pouco para evitar ficar tão vulnerável de novo. Você se isola dentro de si mesma em busca de alguma segurança e sabe plenamente que não está imune a passar por outra situação semelhante.
Conversando com uma amiga outro dia, ela disse que muito se questiona se é possÃvel, de fato, haver algum relacionamento que não seja, em algum nÃvel, abusivo. Disse a ela que nunca parei para pensar assim — e que é assustador perceber que a tendência é acreditar que não, não existe um relacionamento livre de abusos. Mas, depois de quase um ano lutando cá com as minhas cicatrizes, existe alguma parte de mim que ainda tenta ter esperança de que sim — e, se olharmos por outro ângulo: somos 115 que, hoje, conseguimos perceber que estivemos em relacionamentos abusivos; cá, do outro lado.
Estar em um relacionamento abusivo é horrÃvel em todos os aspectos, mas te ensina muito sobre si mesma, sobre sua visão de mundo. Você passa a ter certezas absolutas sobre o que tolera e o que jamais irá tolerar novamente, e tem total consciência de que a pessoa que resolver se relacionar com você precisará entender e aceitar seus limites. Por algum tempo, você se pega pedindo desculpas até passar a aceitar que sua história não pode e não deve te causar vergonha ou medo — e que a pessoa que não está disposta a lidar com ela não tem mesmo qualquer motivo para permanecer na sua vida. Você determina. Você se coloca no comando.
Não, não sabemos ser amadas. Mas gosto de pensar que estamos no processo de aprender como queremos e merecemos ser amadas, com muita luta, pra então ensinar a todo mundo que tente se relacionar conosco que amor não é qualquer historinha que contam por aà e definitivamente não envolve dor.
...E aÃ, como faz?
Estar em um relacionamento abusivo é horrÃvel em todos os aspectos, mas te ensina muito sobre si mesma, sobre sua visão de mundo. Você passa a ter certezas absolutas sobre o que tolera e o que jamais irá tolerar novamente, e tem total consciência de que a pessoa que resolver se relacionar com você precisará entender e aceitar seus limites. Por algum tempo, você se pega pedindo desculpas até passar a aceitar que sua história não pode e não deve te causar vergonha ou medo — e que a pessoa que não está disposta a lidar com ela não tem mesmo qualquer motivo para permanecer na sua vida. Você determina. Você se coloca no comando.
Não, não sabemos ser amadas. Mas gosto de pensar que estamos no processo de aprender como queremos e merecemos ser amadas, com muita luta, pra então ensinar a todo mundo que tente se relacionar conosco que amor não é qualquer historinha que contam por aà e definitivamente não envolve dor.
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