Precisamos falar da reação dos oprimidos!

A discussão sobre as formas de reações, as estratégias que tomamos, tanto no campo individual, como no coletivo, para proteger os nossos corpos e reafirmar nossa existência tem sido muito questionada e eu tenho muito refletido sobre a militância e a resistência, tanto LGBT quanto feminista, por serem essas as que mais me tocam subjetivamente. Graças a dissertação e ao GEPSs - Grupo de Estudos e Pesquisa , refletir sobre resistências e o cuidado de si tem sido uma constância teórica que se mescla e muito com a prática cotidiana, sobre as ações e relações diárias.

Falar que nossas estratégias segregam quem nos oprime é algo constantemente reproduzido. E cá entre nós, isso me intriga e cria paradoxos internos que são perturbadores. Mas é no incômodo que avançamos. Essa semana, em especial, o termo irônico e mitológico urbano “heterofobia” foi um desses causadores de incômodos produtivos, mas semanas atrás a reação ~violenta~ dos oprimidos também muito me inquietou. Será que ao reagirmos as estruturas de opressões estamos também oprimindo? Será que ao reafirmar nossos locais de convívio de minorias estamos segregando? Será que estamos reproduzindo o mesmo escalonamento de opressões?


Ainda que eu me questione muito sobre essas novas práticas, a frase “não confunda a reação do oprimido com a violência do opressor” é uma máxima em meu interior, ainda que eu a questione continuamente, que faz real sentido. Chego a conclusões - também inconclusivas, porque o pensar é a incerteza e o questionamento constante - de que a resistência é o oposto da reação, pois quando reagimos damos a resposta àquilo que o poder quer de nós. Contudo, quando resistimos criamos possibilidades de [r]existência de nossos corpos, por meio de forças inéditas, por meio de afirmações de existência, por meio do afeto acolhedor que é a percepção da não solidão dos nossos corpos em meio ao sofrimento. Resistir, portanto, é também criar.

Sem querer ser aqui academicista, mas trazendo a utilização da teoria para nossas práticas de vida, temos que para Foucault, a resistência é uma ação da força que se subtrai das estratégias efetuadas pelas relações de forças do campo do poder, permitindo à esta força entrar em relação com outras forças oriundas de um lado de fora do poder (FOUCAULT,1988). Forças do devir, da mudança, que apontam para o novo e engendram possibilidades de vida. Resistir é criar, para além das estratégias de poder, um tempo novo, obviamente. Mas ao resistir criamos possibilidade de vida e isso é para mim, talvez, um dos fatos mais lindos da vida.

Em suma, tenhamos em mente que ao criarmos novas possibilidades de resistências, nossos guetos de afirmação de existência, nossos campos de reconhecimento, ainda que nos corpos enlutados e massacrados, somos criadores de novas possibilidades e de novas resistências. A luta é nosso verbo mais frequente e nossa maior possibilidade de criar novos rumos!

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