Sobre extremismo e resistência

A cada segundo, morremos pelo menos uma vez. 

Um. Dois. Cinquenta e três. Ontem, morremos mais de cinquenta vezes. Assim, num piscar de olhos, mais de cinquenta. 

A verdade é que a comunidade LGBT é assassinada todo o tempo. De maneiras diferentes, de todos os lados. Outra verdade é que pode ser que o sangue esteja em suas mãos também. 

O que aconteceu na boate Pulse, em Orlando, não foi um ato terrorista, muito menos feito por um monstro. Foi um homem. Nascido e criado pelo patriarcado e suas raízes que, apesar de apresentarem sinais de ruína nos últimos tempos, ainda são muito presentes em nossa realidade. O fundamentalismo religioso, de fato, é um ato de terror. Mas não é somente um ato de terror. 

Não utilizaremos, pelo menos aqui, de eufemismos para mascarar o que grande parte das pessoas não quer ouvir. Ainda que a surdez seletiva esteja instaurada nas bases da sociedade, a gente grita. Juntos. Como um só. 

Não é terror. 

Não é só terror. 

Quantas vezes você, aos treze anos de idade, conversou com algum Deus pedindo pra ele te fazer diferente? Quantas vezes você ignorou diversos sinais porque sabia que seria difícil demais? Quantas vezes te olharam diferente por você segurar a mão de alguém em público ou te disseram que você deveria “pensar nas crianças que estavam ali”? 

Quantas vezes? 

Quantas vezes você disse que ela deveria colocar um vestidinho ou que ele deveria não ser tão afeminado? Quantas vezes você não deixou seu filho dançar uma música porque aquilo “é coisa de menina”? Quantas vezes você disse que “não tem preconceito e até tem amigos que são, mas...”? Quantas vezes? Quantas vezes hoje (e só hoje) o sangue dessas pessoas, de nossas pessoas, esteve indiretamente em suas mãos? 

E nós? Só continuamos a morrer enquanto uma espiral de ignorância e desrespeito paira como uma nuvem negra sob nossas cabeças. Mas não morreremos em silêncio. 

Vocês ainda vão ouvir.


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