Nenhuma mulher é obrigada a querer nada
Eu não quero filhos.
É muito engraçado como essa ideia é extremamente clara na minha cabeça. Independente do cenário em que eu me imagine daqui há alguns anos, em nenhum deles eu consigo me imaginar com uma criança. Eu me imagino realizando coisas ótimas, ajudando muita gente, me imagino em um relacionamento bacana, mas eu não consigo me imaginar, de forma alguma, responsável por outra vida.
E eu não tenho que conseguir me imaginar.
Eu não tenho que querer um filho.
Eu não tenho que ter um filho para me sentir uma mulher "completa".
Eu não tenho que absolutamente nada.
Eu sou uma mulher completa porque eu sou uma mulher completa. E ponto final.
Sei que existem diversos textos a respeito desse assunto em praticamente todos os blogs feministas existentes, mas eu sinto vontade de falar sobre isso há muito tempo e agora posso falar sobre isso aqui. Nada acadêmico, nada extremamente desenvolvido, apenas o que me incomoda há muito tempo e tenho certeza de que o faz a outras meninas também.
As pessoas precisam entender o perigo desse tipo de discurso. Em primeiro lugar, existem infinitas mulheres mundo afora que não queriam ser mães e hoje são. E essas mulheres, muitas vezes, acabam realmente se sentindo muito bem em tal papel - social e emocional - e eu acho isso ótimo. Mas muitas mulheres não o fazem. Existem muitas mães que sofrem de depressão pós-parto severa por se sentirem obrigadas a criar um vínculo com a criança que a sociedade prometeu que ela seria capaz de criar assim que o bebê viesse ao mundo, mas adivinhem só? Não existe passe de mágica algum. Essa crença de que toda mãe irá sempre criar um amor imediato pelo seu filho gera, em muitas mães, um sofrimento absurdo e completamente dispensável.
Além disso, quando eu digo que não quero filhos, ninguém - absolutamente ninguém - algum dia me perguntou: "sério? e o que você faz da vida? quais são seus sonhos? o que você quer no futuro? o que você quer hoje?". Todo mundo sempre me questiona: "mas como assim? TODA mulher quer ser mãe".
Automaticamente, com esse discurso, a pessoa quer ditar o que eu devo querer. E, caso eu não queira, quer questionar o quão "mulher" eu sou, visto que todas querem - como eu posso não querer?
Jennifer Aniston, como um grande exemplo, é uma mulher maravilhosa. Dona de Hollywood. Rainha de Friends. Ganhou (ganha) e fez (faz) muito sucesso na profissão que escolheu. Mas tudo o que a mídia soube falar por muito tempo - e ainda fala nos dias de hoje - foi sobre o quanto ela estava infeliz por não exercer o papel de mãe.
Não, nem toda mulher quer ser mãe. Assim como nem toda mulher quer casar. Assim como nem toda mulher quer trabalhar fora de casa. Assim como nem toda mulher quer ter qualquer tipo de relacionamento. E assim por diante.
Nenhuma mulher tem que querer NADA.
O que a sociedade precisa entender é que a realização pessoal se apresenta de diferentes formas para TODAS as pessoas. Assim como nem todo homem é obrigado a querer nada, as mulheres também não devem ser cobradas para tal. Existem mulheres que sonham com a maternidade desde sempre? Existem, muitas. Mas não deve ser considerado regra, em hipótese alguma.
Você precisa querer aquilo que te faça bem. Aquilo que te faça feliz. Seja lá o que for - desde que não lhe faça mal ou não faça mal à terceiros. Fora isso, amiga, a vida é SUA - exclusivamente sua -, independentemente do que a sociedade lhe diz.
A verdade é que: não importa o que você faça, alguém sempre irá te cobrar alguma coisa. Casou? Que bom, mas e o filho? Teve um filho? Que bom, mas e o segundo? Parou de trabalhar porque não tem quem cuide das crianças? Mas e agora, e a sua carreira? Ninguém nunca vai te deixar em paz. É absolutamente impossível agradar todo mundo. Mas a verdade é que quem vai viver a sua vida é você. Seu emprego é seu, é você que o frequenta todos os dias; o filho é seu, é você que vai ter que cuidar para o resto da vida; a vida é sua: e ninguém vai viver no seu lugar. Está sempre todo mundo pronto para dar opiniões, mas se o calo apertar, se as coisas ficarem difíceis, ninguém vai querer viver os seus problemas por você. Portanto, a única opinião que deve ser levada em consideração ao tomar uma decisão é a sua. Considere sempre o que você pensa, o que você sente, quais são as suas vontades.
Ignore qualquer um que te diga que você precisa de algo para ser completa: seja esse algo um relacionamento, seja esse algo uma criança. O que você realmente precisa para é você mesma e as suas realizações: que, muito provavelmente, são diferentes das minhas e... guess what? Não tem absolutamente nada de errado com isso.
À todos, uma dica: da próxima vez que alguém te disser que não quer alguma coisa, responda apenas "ah é? que legal" e siga a tua vida.
Ninguém perguntou o que você pensa sobre isso.
Mari que texto maravilhoso! Super me identifiquei em cada parágrafo. Sempre que digo que não quero ter filho me deparo com olhares e respostas como: "que tipo de mulher você vai ser?", "você vai mudar de ideia" ou "você vai se arrepender" e sempre me surpreendo com a capacidade das pessoas de julgarem o que melhor para os outros de acordo com suas próprias convicções. Será que é tão difícil entender que mulher e maternidade não são sinônimos? Que eu ao escolher não querer ter um filho, estou apenas exercendo o direito que tenho sobre o meu corpo, assim como, evitando transferir futuramente para uma criança a responsabilidade pela minha infelicidade e frustrações? Se é a maternidade que faz uma mulher completa, tenho que confessar, ah, como eu amo essa minha incompletude!
ResponderExcluirPor fim, gostaria de dizer que amei como você colocou a questão da cobrança pela maternidade + doença. Infelizmente essa é uma questão ainda pouca debatida e que precisa da atenção da nossa sociedade e dos nossos profissionais.
Nat, que feliz que fico por você ter gostado tanto! Essa pressão é irritante, cansativa e nós não precisamos lidar com isso. Queria colocar em palavras o que eu sinto disso tudo e que bom que consegui o suficiente pra você se identificar.
ExcluirE com certeza, a sociedade precisa entender as consequências das exigências sobre certos papéis sociais. É muito fácil cobrar, né? Mas a verdade é: o que é que alguém tem a ver com a nossa vida?